A USP continuará restringindo a prática de ciclismo esportivo na Cidade Universitária, o campus Butantã, na zona oeste da cidade de São Paulo. A decisão foi tomada durante audiência pública realizada na semana passada, e teve a aprovação da turma do pedal.
O acesso de bicicletas ao local deve seguir as regras criadas em outubro de 2018 pelo Conselho Gestor do campus, que na época recebeu reclamações de motoristas e pedestres sobre o comportamento conflituoso com grandes pelotões de ciclistas.
Na ocasião não foram consideradas as demandas dos ciclistas esportivos, e as restrições foram impostas no ano seguinte, pelo então prefeito do campus Butantã, o professor Hermes Fajerstajn.
De acordo com as regras de 2018, ratificadas na semana passada, carros, motos e bicicletas usadas para fins de deslocamento podem acessar a Cidade Universitária de segunda a sexta, das 5h às 20h. Já a prática de ciclismo esportivo ficou limitada às terças, quintas e sábados, entre 4h30 e 6h30 (aos domingos o local é restrito a alunos e funcionários).
Além disso, todo ciclista interessado em treinar no local deve ter um cadastro aprovado pela universidade e usar uma placa de identificação —fornecida pela USP— na bicicleta e no capacete. Também está proibida a circulação de bicicletas na rua do Matão, um dos locais preferidos para treinos de subida.
De 2019 até hoje, apenas o horário limitado tem sido imposto aos ciclistas esportivos. Pelotões sem cadastro ou placas acessam as vias do campus de segunda a sábado, tão logo a Portaria-1 abre, às 4h30, e são expulsos do campus pontualmente às 6h30, por equipes da Guarda Universitária.
Medidas para realizar o emplacamento, assim como a proibição de treinos às segundas, quartas e sextas, serão tomadas após uma campanha de esclarecimento que será promovida pela universidade.
O anúncio da medida desagradou ainda mais os atletas, que desde 2005 vêm sofrendo com diversas proibições de acesso à Cidade Universitária. Contudo, há de se lembrar que esta é a primeira vez que a prefeitura do campus Butantã toma uma decisão deste tipo a partir do debate democrático, para o qual ciclistas esportivos foram convidados.
A iniciativa, realizada através de audiência pública no dia 17, foi promovida pela atual prefeita, a professora Raquel Rolnik, conhecida, entre outras qualidades, pelo seu trabalho em defesa da mobilidade ativa e dos direitos sociais.
Apesar do histórico embate entre ciclistas esportivos e a administração da USP, pesa sobre os próprios ciclistas a decisão tomada a seu desfavor. Durante a audiência não havia representação suficiente para reclamar o excesso de restrições e pedir a volta do acesso livre aos atletas. Pelo contrário, dos pouquíssimos ciclistas presentes na audiência —eram menos de 10—, a maioria era formada por ciclistas de deslocamento urbano, modalidade que não sofreu restrições.
Muitas assessorias esportivas e líderes de clubes de ciclismo desperdiçaram a oportunidade que tanto reclamavam. Mas isso não livra a USP de seu erro. Impedir o livre acesso de qualquer tipo de ciclista e exigir o emplacamento é inconstitucional.
Se há liberdade para a circulação de grande volume de pessoas em carros e motos, que usam o campus como via de passagem, a mesma liberdade tem que ser dada aos grupos de pessoas em bicicletas.
Além disso, os administradores do campus esquecem que não há na cidade de São Paulo muitos outros locais seguros para a prática desse esporte, e que a USP sempre foi um refúgio para grupos atacados, de heróis da democracia a ciclistas esportivos. Retirar esse direito de toda uma comunidade esportiva vai contra a história da própria instituição.
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