A prévia da inflação de maio, divulgada ontem pelo IBGE, mostrou um alívio disseminado nos preços, especialmente de alimentos. O IPCA-15 deste mês ficou em 0,36%, abaixo do 0,43% registrado em abril e das previsões dos analistas do mercado, de 0,44%. Foi a terceira desaceleração consecutiva, e a menor alta para o mês desde maio de 2020.
A visão de economistas é de que o resultado começa a apresentar sinais de uma melhora da inflação mês a mês, com desaceleração disseminada entre os grupos analisados.
Economistas acreditam que o resultado do IPCA-15 reforça as previsões de que Copom deve interromper o ciclo de altas da taxa básica de juros (Selic) já na próxima reunião, em junho. A ressalva é que a prévia da inflação acumulada em 12 meses ficou em 5,4%, muito acima do centro da meta de 3% para o IPCA cheio no ano e do teto de 4,5%.
Entre os grupos que surpreenderam positivamente para baixo estão alimentação no domicílio, eletrônicos e comunicação, além de serviços sensíveis à política monetária. O cenário é diferente do visto em março e abril, que, embora também tenham vindo com altas menores, o alívio ficou concentrado em poucos itens.
— Ao contrário de números anteriores, quando o índice geral vinha bom, mas você abria o resultado e encontrava dados ruins, dessa vez o IPCA-15 foi bom. Apesar disso, o acumulado em 12 meses continuou subindo. Isso nos mostra que a gente ainda está em um processo de aceleração da inflação que ainda não foi revertido. Obviamente é uma boa notícia, mas isso não garante uma tranquilidade com relação ao processo inflacionário — explica Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.
Para Leal, a expectativa é de números baixos para os próximos meses, mas ainda não compatíveis com a meta da inflação:
— Temos que considerar que agora estamos em um período em que parece que finalmente os números dos alimentos estão mais tranquilos. Considerando que o peso do Grupo Alimentação chega a mais de 20% do índice geral, isso traz uma perspectiva de desaceleração.
O economista avalia que ainda há itens que podem pressionar, como vestuário, que pode ver os preços subirem com lançamentos da moda outono-inverno, o que faz com que ainda seja cedo para projetar uma desaceleração constante do número.
Na visão de Marianna Costa, economista chefe da Mirae Asset, a melhora no índice está mais ligada à sazonalidade dos grupos. Por isso, ela ainda espera uma inflação em 12 meses persistente nos próximos dois ou três meses, rodando perto do 5,5%:
- Recuo no preço dos alimentos puxa IPCA-15 para baixo: veja as principais altas e quedas
— Antes de agosto dificilmente a gente vai ter grandes alívios. Isso está diretamente ligado ao comportamento do mercado de trabalho ainda muito aquecido, com volume de vendas no varejo ainda em patamares relevantes, o que sugere que a inflação ainda segue pressionada.
Mesmo com o resultado em 12 meses elevado, os economistas já consolidam a expectativa de fim de ciclo de alta da Selic, cenário reforçado pelas altas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que indiretamente encarecem o crédito e diminuem a pressão sobre o Banco Central.
— Essa combinação do resultado de IPCA-15 melhor que o esperado, com a visão do mercado com relação ao IOF, mostra que está bem encaminhada a manutenção dos juros na próxima reunião do Copom — avalia Leal.
Para Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, ainda é muito cedo para falar em redução da Selic. Porém, “sem novos estímulos fiscais do governo (o que não é óbvio, com tantas medidas sendo anunciadas) e com maior contingenciamento de gastos, o processo de desinflação pode se consolidar e podemos começar a discutir a redução da Selic no final do ano”, comentou ela.
Após dois meses em alta, alimentação em domicílio teve forte desaceleração, saindo de 1,29% em abril para 0,30% este mês. O preço do tomate caiu 7,3%, depois de altas sucessivas em março (12,5%) e abril (32,6%). O arroz recuou 4,3%, e o ovo teve deflação de 2,2%. Entre as altas se destacaram batata-inglesa (+21,7%), cebola (+6,1%) e café moído (+4,8%).
No Grupo Transportes houve queda de 11,18% no item passagens aéreas. Já a energia elétrica residencial teve alta de 1,68%, a maior pressão de aumento, já que no mês passou a vigorar a bandeira tarifária amarela, com cobrança adicional nas contas de luz. O Grupo Saúde e Cuidados Pessoais subiu 0,91%, influenciado pelos produtos farmacêuticos (1,93%).
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