O vereador evangélico Carlos Alberto Bezerra Júnior (PSD-SP) rompeu com a bancada do seu partido e se posicionou como independente da base de governo Ricardo Nunes (MDB), na Câmara Municipal de São Paulo. Qual o lugar dele na política hoje, ao buscar um caminho ao centro?
No Instagram do vereador Bezerra, que tem mais de 200 mil seguidores, as críticas vão de Lula a Jair Bolsonaro. Seus vídeos políticos quase sempre começam com o bordão: “Se você idolatra políticos, terá dificuldades com este vídeo…” Em seguida, vem uma crítica dura, mas sem ataques pessoais.
Ao lado do conteúdo político, Bezerra também comenta os temas que repercutem na semana. Seu posicionamento como cristão evangélico é sempre evidente. No Carnaval, criticou o Bloco da Laje, de Porto Alegre, que retratou Jesus usando fio dental. Defendeu a cantora Cláudia Leitte, acusada de racismo religioso por trocar Iemanjá por Yeshua na letra de uma música. Sempre atento aos temas caros aos evangélicos, ele se posiciona como cristão e pastor.
“Pau que dá em Chico dá em Francisco”. Bezerra tenta colocar isso em prática ao direcionar suas críticas também às igrejas evangélicas. Em um de seus vídeos mais recentes, comentou a pesquisa Atlas/Intel, que mostrou que 72% dos brasileiros não confiam nas igrejas evangélicas, e atribuiu a reprovação à incoerência de líderes religiosos que pregam amor, mas agem com preconceito em muitos temas.
A lista de críticas às igrejas evangélicas é longa. Ele já questionou o surgimento de áreas VIP nos templos, a conduta de um empresário mineiro que ameaçou demitir um funcionário por não participar de um culto e a fala de um pastor que afirmou que a depressão do padre Fábio de Melo era causada por uma suposta homossexualidade enrustida.
Bezerra tem lugar de fala para criticar seus irmãos de fé. Seu pai é pastor com raízes na Igreja do Evangelho Quadrangular e fundador da Comunidade da Graça. Além de médico, ele também é pastor na igreja fundada pelo pai. Talvez por isso, suas críticas às igrejas encontrem resistência entre os próprios evangélicos. Muitos preferem que os problemas da igreja fiquem restritos às quatro paredes do templo.
O vereador Bezerra sobreviveu ao colapso político que engoliu partidos de centro. Ele construiu sua carreira no PSDB, partido pelo qual foi eleito vereador pela primeira vez em 2000. Foi deputado estadual, secretário do governo estadual e secretário de Assistência e Desenvolvimento Social do município até a eleição passada.
Na secretaria enfrentou o aumento da população em situação de rua na pandemia criando o projeto Vila Reencontro, avaliado positivamente por um dos críticos mais árduos das políticas para essa população, o padre Júlio Lancellotti. O sacerdote elogiou a autonomia das famílias no projeto, embora tenha criticado o refeitório geral.
A trajetória de Bezerra mostra a diversidade dos evangélicos na política. Pela visão estereotipada, ele seria classificado como um político de direita – afinal, além de pastor, formou-se médico no oficialato do Exército. No entanto, sua posição é menos óbvia: conservador nos costumes, mas com uma trajetória consistente como ativista social e defensor dos direitos humanos.
O caminho cristão é estreito, como ensinou Jesus. Nos dias de hoje, o do político evangélico que, como Bezerra, escolheu permanecer no centro, é ainda mais. Seu mérito está na coragem de disputar um espaço dominado pela polarização, via redes sociais, num tempo em que a política se funde cada vez mais com o entretenimento.
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