A Polônia e os três Estados Bálticos anunciaram nesta terça (18) que vão deixar a convenção que veda o emprego de minas antipessoais, abrindo o caminho para coalhar com esses arrmamentos suas fronteiras com a Rússia.
“A ameaça militar aos membros da Otan que fazem fronteira com a Rússia e a Belarus aumentou significativamente. Com essa decisão, nós estamos mandando uma mensagem clara: nossos países estão prontos e podem usar qualquer medida necessária para defender seus requisitos de segurança”, disseram as nações em comunicado.
Com isso, a Europa sob a sombra do conflito na Ucrânia vê a possibilidade de um retorno à era da Cortina de Ferro, expressão que na Guerra Fria determinava a fronteira teórica entre a esfera de influência soviética no leste do continente com as democracias liberais do lado ocidental.
Hoje, Polônia, Estônia, Letônia e Lituânia são signatárias da Convenção de Ottawa, que em 1997 estabeleceu o banimento dessas amas. Países importantes no jogo geopolítico, como Estados Unidos, Rússia e China, não são aderentes ao texto, aceito por mais de 160 nações.
Os quatro países são a linha de frente da Otan ante a Rússia, com quem dividem 1.245 km de fronteira majoritariamente terrestre, e a aliada do Kremlin Belarus, que têm 1.248 km de contato com os vizinhos.
Minas antipessoais são algumas das armas mais cruéis em uma guerra. Algumas cabem na palma da mão, sendo espalhadas por obuses ou drones na linha de frente, servindo para destroçar os pés e pernas de soldados.
Em locais como Afeganistão e Tchetchênia, há gerações de pessoas que perderam a mobilidade devido a essas armas, e quando a campanha mundial pelo fim dessas armas levou ao tratado de 1997, seus ativistas ganharam o Nobel da Paz.
A realidade, contudo, se interpôs. Além dos quatro países, a mais recente membro da Otan e aderente da convenção, a Finlândia, já disse que também estuda a ideia de deixar o tratado. O país, sozinho, dobrou a fronteira da aliança militar com os russos quando aderiu, em 2023. As nações compartilham 1.340 km de linha de contato.
“Nós examinamos muito de perto como a Rússia opera na Ucrânia, especificamente o uso maciço de infantaria e de minas”, disse em dezembro o ministro Antti Häkkänen (Defesa). O comitê parlamentar que trata do tema elogiou a decisão dos vizinhos regionais.
A percepção de perigo é ainda mais acentuada neles. Os três Estados Bálticos são as únicas repúblicas ex-soviéticas que ingressaram na Otan, em 2004.
As duas outras que tentaram, Geórgia e Ucrânia, acabaram em guerra com a Rússia —o pequeno país do Cáucaso foi subjugado em 2008 e a grande nação do Leste Europeu está em conflito há três anos.
Já a Polônia, que historicamente vive às turras com os russos e foi ocupada por eles na divisão feita entre a União Soviética e Alemanha nazista em 1939, só para virar um satélite comunista após a Segunda Guerra Mundial, é o país da Otan que mais gasta com defesa proporcionalmente: 4,12% do PIB, o dobro da meta da aliança.
A Belarus foi incluída no comunicado devido ao seu alinhamento político e militar com Vladimir Putin. A ditadura de Aleksandr Lukachenko tem 1.248 km de fronteiras com poloneses, lituanos e estonianos e tem estacionado em seu território armas nucleares táticas russas.
Isso levou Varsóvia a pedir o mesmo dos EUA, dentro do esquema de compartilhamento dessas armas de uso supostamente limitado ao campo de batalha, mas é improvável que o russófilo Donald Trump tope. Com isso, os poloneses têm conversado com a França, que sugeriu expandir seu guarda-chuva atômico próprio a aliados europeus fora do arcabouço da Otan.
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